
Fabiano de Cristo nasceu em 8
de fevereiro de 1676, em Soengas, norte de Portugal. Conforme o costume
católico de dar-se às crianças o nome do santo em cujo dia nascem, o menino
recebeu, na pia batismal, o nome de João. A infância de João Barbosa foi
simples. Família pobre, cinco irmãs. Tomava conta do pequeno rebanho de ovelhas
do pai. Trabalhava de sol a sol, dormia muito cedo, acordava com a aurora.
Ninguém
sabia ler na aldeia. Foi o padre quem lhe ensinou as primeiras letras e as
primeiras contas.
João
alcançou a adolescência, a idade dos sonhos e aspirações. Parece que despontou
no rapaz o desejo de restabelecer a antiga nobreza dos antepassados. Mas não
seria em Soengas que isso poderia acontecer.
Por
isso, a cidade do Porto, cheia de vida, a três horas de caminho, atraiu sua
atenção. Para lá se dirigiu e passou a trabalhar. O emprego de João era ligado
ao movimento do cais. Um amigo de seu pai estava nos negócios, enviava
linguiças, vinhos e conservas para as colônias portuguesas.
No
final do século XVII, a novidade mais ambiciosa que os marinheiros traziam a
Portugal era a descoberta abundante do ouro em Minas Gerais. Conseguiu dois
sócios e com eles partiu de Portugal para os sonhos do Brasil.
Aportou
João na cidade do Rio de Janeiro, mas fixou residência na Vila de Parati, porta
de entrada para as minas. Tornou-se negociante da carreira das minas. Suas atividades estavam
relacionadas ao comércio, importação e exportação, que ele conhecia bem, em
função de suas experiências na cidade do Porto. Em poucos anos, João já estava
senhor de pequena fortuna.
Com
28 anos de idade, fazia parte da Irmandade do Santíssimo Sacramento,
Vinculara-se ao pároco da Paroquial Igreja da Vila de Parati. Muito devoto das
almas do purgatório, conseguiu erguer a Irmandade da Boa Morte. Longe de cair
como miserável cativo da avareza, João Barbosa era conhecido em Parati pela sua
generosidade.
Na
aldeia chamada Aparição, não longe de Parati, um sócio e companheiro seu no
negócio, fora vítima de um assassinato. A notícia abalou profundamente a João,
causando surpresa e grande comoção na sua já tão abalada alma. João Barbosa
estava maduro e resoluto para a vida religiosa.
Livre de todos os bens terrenos, no dia 8 de novembro de 1704,
João Barbosa apresentou-se à portaria do antigo Convento de São Bernardino de
Sena, em Angra dos Reis. Foi admitido como noviço. No dia 12 de novembro de
1705, João Barbosa mudou o nome de João para Fabiano e o de Barbosa pelo de
Cristo, passando a ser Frei Fabiano de Cristo.
No
final do ano de 1705, foi transferido de Angra dos Reis para o Rio de Janeiro
para ser o porteiro do Convento de Santo Antônio. Três ou quatro anos mais
tarde, deixou a portaria do convento para desempenhar uma nova função, que
consumiria os 38 anos restantes de sua vida - a de enfermeiro.
Embora
não tivesse preparação especial para a função de enfermeiro, a caridade e o
esforço pessoal substituíam as deficiências. No tratamento aos enfermos, se
evidenciava sua caridade. Praticamente levava sua vida junto aos doentes, a tal
ponto que nem sequer tinha um quarto próprio.
Por
longo tempo, contentava-se em dormir em qualquer lugar da enfermaria, para que,
dia e noite, pudesse estar à disposição dos doentes.
Andava rezando na enfermaria com os pés descalços, alegando que,
com as sandálias, acordaria os enfermos. Afirmava que era necessária a
observância do silêncio. Por mais que procurasse ocultar, muitos testemunharam
suas virtudes, exemplificadas na humildade, obediência e na dedicação.
Com
o correr do tempo, o corpo de Frei Fabiano foi sentindo o peso da idade e dos
sacrifícios, na forma de sofrimentos físicos que o crucificaram por mais ou
menos 30 anos. A causa inicial desses sofrimentos foi uma erisipela, que
causava inchação e cruciantes sofrimentos nas pernas, acentuadamente na
esquerda, qualificada como mais que monstruosa. Na perna direita se lhe
originou uma grande e horrorosa chaga, que vertia continuamente copioso pus.
Ainda nas pernas, sofreu em seguida de outro incômodo não menos doloroso: um
quisto.
Frei
Fabiano atingira a casa dos 70 anos de idade. O mês de outubro de 1747 trouxe
agravamento em seu estado de saúde. Desde o dia 14, Frei Fabiano já anunciava
que partiria em três dias. Nesses três dias, Fabiano, na enfermaria, alenta
ânimos desfalecidos. Beija crianças. Afaga velhos abatidos pela dor. Encoraja
os que choram. Ampara os desesperançados.
Tal
como ele próprio havia previsto, desencarna no dia 17 de outubro de 1747.
Na
quarta-feira, dia 18 de outubro, desde o amanhecer até às dez horas da noite, a
população da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro acorreu ao Convento de
Santo Antônio, com exclamações de Vamos ver o Servo de Deus, Frei
Fabiano.
Fonte:
Boletim do Grupo Espírita Fabiano, de setembro/outubro 2009.
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