"A TOLERÂNCIA É A MELHOR DAS RELIGIÕES."
Victor Hugo
Tolerância é o ato
de respeitar as diferenças. É colocar em prática um dos pilares da ética
universal. É agir com base em valores integrais, que não dizem respeito a
crenças provisórias e passageiras, muito embora o ser que tolera se sirva delas
para fazer da atitude tolerante uma postura definitiva, que marque o seu tempo
e a sua vida.
É a falta de
tolerância a causa de homens fanatizados se transformarem em bombas vivas,
levando consigo outras tantas vidas por causa da incapacidade de conviver com
visões de mundo e de Deus diferentes das próprias. Essa tese pode ter seu
alcance estendido para outro ambiente, o da Casa Espírita, onde companheiros de
convicção partilham ideais semelhantes, na busca de concretizá-los pela prática
do bem, e nem sempre se utilizam da tolerância para superar ruídos da
convivência.
A conduta tolerante
é tão importante para o pensamento doutrinário que até Allan Kardec a colocou
em destaque, ao afirmar que tolerância, trabalho e solidariedade são pilotis
fundamentais em qualquer obra voltada para o bem da Humanidade.
Será que se deve
tolerar tudo? O bom senso sugere que não... por que não tolerar também o Mein
Kampf, de Hitler? E, se tolerarmos o Mein Kampf, por que não o racismo, a
tortura, os campos de concentração? Compreende-se que uma tolerância universal
é moralmente condenável. Resta, portanto, propor uma forma existencialmente
pragmática e eticamente aceitável de concebê-la como valor real, a ser colocado
em prática, tal como Kardec sugere aos espíritas...
...Uma dúvida: E
quando o que está em jogo é um aspecto doutrinário uma maneira de entender
este ou aquele tema, ou de que forma ele vai ser aplicado nas atividades da Casa
Espírita? Como fazer quando opiniões divergentes se chocam e não há a vigilância
necessária para que a postura da tolerância supere as rusgas das divergências?
Não vejo inspiração
maior para deixar-se mergulhar no aroma da tolerância senão lembrar-se da
figura ímpar do Codificador. Allan Kardec superou duras provas de paciência ao
ser a primeira grande vítima dos ataques impiedosos da ignorância letrada, que
o acusava de todo tipo de falcatrua para denegrir a nova visão de mundo e de
além-mundo que chegava.
Kardec não tolerou
aqueles que caminhavam com ele. Esses, ele os amou. O professor exerceu a
tolerância em mais alto grau para com os que o detratavam, não sem
oferecer-lhes as explicações seguras e profundas do que justificava seus
argumentos...
Para o filósofo
francês contemporâneo André Comte-Sponville, tolerar é responsabilizar-se, pois
a tolerância que responsabiliza o outro não é tolerância. “Tolerar o sofrimento
dos outros”, diz o autor, “tolerar a injustiça de que não somos vítimas,
tolerar o horror que nos poupa não é mais tolerância: é egoísmo, é
indiferença”.
Nesse caso, tolerar
Hitler seria tornar-se cúmplice de seus crimes. Seria suportar intelectualmente
uma dor que não vivemos junto daqueles que sofreram as consequências atrozes da
perseguição aos judeus, durante a Segunda Guerra Mundial.
A tolerância de
Kardec foi sempre acompanhada da responsabilidade do esclarecimento; logo por
ele, o missionário da verdade, a quem cabia tirar o véu da ignorância e do
desconhecimento da realidade espiritual. Tolerar é vestir de nobreza o trabalho
solidário.
Eis um dos grandes desafios
que a Casa Espírita tem a vencer. Ao espírita, cabe abraçar a mesma causa,
fazendo com que a presença na sociedade espírita seja cada vez mais agradável,
porque ele sabe que está entre irmãos de ideal, tão precisados quanto ele do
saudável remédio da tolerância para seguir adiante em seu trabalho no bem.
(Por Carlos Abranches – Reformador/Março, 2004).
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