PESOS
INÚTEIS
Quanto
mais a ciência biológica estuda as estruturas íntimas dos seres vivos, mais
claramente constata que os fenômenos nascimento e morte são etapas de um
processo natural da vida. Mesmo assim, nos agarramos à ideia de que somos
separados da Natureza e encaramos a morte como o fim de tudo, numa visão
isolada, desumana e insuportável de conceber.
Não
nos auxilia em nada considerar a morte um adversário porque mesmo assim, ela
continuará fazendo parte de nossa existência. E ao tentar negá-la, estaremos
nos distanciando ainda mais da realidade integral.
Todavia,
ao provar o sentimento de perda, passamos por uma das maiores experiências como
seres humanos: somos impulsionados a uma intensa reflexão, conseguindo, a
partir daí, observar melhor as verdades transcendentais da Vida.
Nada
se perde no Universo do “Todo-Poderoso”, tudo se transforma de modo
maravilhoso, e com o passar do tempo aprendemos a entender e a aceitar a morte,
numa visão harmônica e translúcida.
Em
verdade, a morte física não nos tira a vida, mas simplesmente faz com que
passemos a transitar por novos caminhos. E como não temos a posse sobre os
outros, ou melhor, as pessoas não nos pertencem, a Vida Maior constantemente
nos coloca à disposição situações e lugares novos, nos mais diversos planos
existenciais, para que possamos nos enriquecer com as múltiplas experiências.
Somos
nômades do Universo, viajantes das vidas sucessivas, na busca do
aperfeiçoamento.
Há
inconformados que sofrem por longo tempo a perda de pessoas amadas que passaram
para outros níveis espirituais. É realmente aflitiva a saudade mesclada na dor,
que abala a alma daquele que vê partir seus entes queridos. Ainda que a dor seja
intensa, o homem deve ser honesto consigo mesmo, buscando continuamente uma percepção
mais precisa dos processos pessoais de “não-aceitação” em face da morte e uma
conscientização do porquê dos sentimentos de rejeição que o mantêm preso a um
constante círculo de pensamentos inconformistas.
Certos
indivíduos sentem profunda culpa se não chorarem e não se lastimarem
indefinidamente, porque acreditam que as pessoas poderão julgá-lo como desumano
e desprovido da capacidade de amar os familiares que partiram.
Outros,
por terem atitudes conservadoras e limitantes a respeito da afetividade, cultuam
falecidos entes queridos para sempre, como se não existisse mais ninguém para
amar. Exageram numa época de grande felicidade, não acreditam que possam ter ainda reencontros alegres e
vivem amarrados no passado propositadamente.
Por
medo da solidão, certas criaturas lamentam de forma ininterrupta a privação de
seus parentes, num fenômeno quase que inconsciente, para chamar a atenção de
outros familiares, a fim de que estes supram suas carências afetivas e suas
necessidades básicas de consideração.
Diversas
pessoas que já atravessaram leves crises de melancolia, ficam sujeitas a períodos
angustiantes ainda mais longos e agravados, quando perdem seus afetos. Sem se
dar conta de que, se examinassem com mais cuidado as matrizes dos seus estados
depressivos, melhorariam sensivelmente, a que, por projetarem; e que, por
projetarem a causa de sua aflição, apenas sobre a perda, sofrem muito sem a
mínima condição de vislumbrar a cura definitiva.
Existem
almas que passam a vida inteira ao redor de outras almas, cuidando delas. Por
não ter vida própria, estão sujeitas a um grau de dependência e apego enorme.
Cultivam a dor como pretexto para sentir-se mais vivas e mais estimuladas,
porque tudo que lhes restou foi agarrar-se às lembranças dolorosas na crença de
que não podem mais parar de sofrer pela separação dos seres amados.
Nossos
sentimentos resultam dos processos de nossas percepções, emoções e sensações
acumuladas ao longo das vidas pretéritas e da vida atual, e é através deles que
temos toda uma forma peculiar de sentir e agir.
Não
obstante, analisando nossos sentimentos de perda e interpretando os reais
fundamentos de nossas dores, poderemos nos conscientizar se estamos agravando
ou não “nosso sentir”. As dores da separação de filhos, cônjuges, irmãos e amigos
podem ser agravadas, se a elas juntarmos o sentimento de culpa, remorso,
dependência, conservadorismo, medo e não-aceitação.
Lembremo-nos,
porém, das palavras de Paulo: “E, quando este (corpo) mortal se revestir da
imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte
na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”
Façamos,
dessa forma, uma transubstanciação de nossos padecimentos e pesares, apartando
todos os “pesos inúteis", descartando-os e substituindo-os pelas “doces brisas”
dos ensinos da Vida Eterna. Agindo assim, veremos abrandar em pouco tempo nosso
coração turvado e pesaroso, que depois
se tornará verdadeiramente aliviado e translúcido.
(Do
livro Renovando Atitudes – Espírito Hammed, psicografia de Francisco do Espírito
Santo Neto)
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