domingo, 14 de agosto de 2016

Fabiano de Cristo na Pátria Espiritual - Parte Final


NO GRANDE DIA

            Fabiano, no dia em que ele próprio anunciara, dera seu último suspiro. Desenfaixara-se de seu corpo carnal, com a serenidade do obreiro que cumprira a derradeira etapa de atividades e que retornara para o seu lar com a consciência tranquila.
            Voltava, assim, à Pátria celestial.
            Sente-se leve e transportado às alturas.
            Ao longe, divisa uma multidão que vem a seu encontro.
            São corações que, entoando hinos de exaltação ao Pai Celestial, vêm recebê-lo na gloriosa estação de chegada, acenando com palmas e recamando o solo espiritual de rosas.
            Olhos marejados, arrasta-se por uma alameda margeada de criaturas amadas que conhecera na Terra e que reconhece nesse extraordinário reencontro. Vê fisionomias felizes, de antigos aflitos que atendera no convento e que lhe enviam beijos pelos ares, entre cânticos e músicas de saudação.
            Alguns irmãos do convento também lá estão.
            Um deles se adianta e retira-lhe o bordão onde se apoiava.
            Fabiano se desembaraça de seu apoio, sem mais necessitá-lo.
            Mais adiante, uma pequena comissão, igualmente engalanada, de almas eleitas e virtuosas o aguarda. E, dentre elas, destaca-se Francisco de Assis, o pobre de Deus, que o abraça com intraduzível amor.
            - De retorno à Casa Paterna – diz-lhe, enquanto Fabiano instintivamente ensaiava ajoelhar-se. – Levanta-te, que te levo ao Senhor e somente diante dele te deves render.
            Caminham para um horizonte de estrelas.
            Quando param, destaca-se uma fulgurante Cruz, que se aproxima daquele reduzido grupo de almas.
            A comissão afasta-se e fica somente Fabiano.
            -Filho, - diz a Voz divina, transfigurando-se a Cruz no próprio Mestre – recebe hoje a Coroa da Vida, que meu pai reserva aos eleitos de seu Reino, por teres perseverado no bem até o fim.
            Aí Fabiano não resiste de emoção e cai de joelhos.
            Em pranto convulsivo, sente-se pequeno demais, apagado demais, para viver aquela visão e aquele momento extremamente sublime.
            Sente a mão divina roçar-lhe o ombro.
            - És benvindo ao Reino do Pai, Fabiano! – E, de cabeça baixa, ele ouve o Senhor dizer-lhe: - Podes, agora, escolher o mundo feliz a que tens direito de ingresso!
            No silêncio sideral, há melodias.
            A brisa é encantadora.
            As flores são gotas coaguladas de luz.
            Pássaros revoam sobre a sua fronte.
            - Diz-me, filho querido, aonde queres estar, a partir deste momento em que te libertas do jugo compulsório da carne?
            Fabiano sente a gravidade daquele minuto.
            Contendo-se na emoção, considera aquela hora tão decisiva para o seu futuro. Revive os instantes em que, quando na Terra, aspirava por um Plano Espiritual superior, mais elevado, assim como um exilado que suspirava por um retorno à terra que lhe falava ao coração opresso pela saudade.
            Lembra-se, porém, de todos os dementados que conhecera.
            Conhece-lhes as angústias.
            Ouvia,  nas reentrâncias de suas recordações, aquelas vozes marcadas pelas angústias e pelas revoltas que, no entanto, se rendiam ante os anúncios das esperanças de caridade vivida.
            Quantos deles existiriam ainda?
            Ajoelhado como estava diante da luz que não ousava contemplar, e de onde lhe viera o convite para ingressar num mundo feliz, entre lágrimas e, humilde, diz:
            - Senhor! Recordo-te em teu último dia de martírio, quando nos trouxeste a Verdade do Pai. Da Cruz, onde estavas entre a Terra e o Céu, derramaste o teu olhar amoroso sobre os homens que te flagelavam e que se obstinavam no mal. Rogaste, então, a teu Pai de Misericórdia, que os perdoasse, porquanto não sabiam o que estavam a fazer.
            - Desde então, Senhor, aquelas tuas palavras me soaram como um convite permanente para a obra de regeneração daqueles que te perseguiam e te feriam, mas que eram amados de teu coração.
            - Queria libertá-los das prisões da ignorância e das trevas do mal, trazendo-os à luz do Eterno Bem.
            Fabiano, mais humilde ainda, completa:
            - Por isso, Senhor, se me é dado escolher entre um mundo feliz e este doloroso vale de lágrimas, permite-me, Senhor, ficar próximo daqueles que ainda não conhecem as bênçãos das lágrimas e do arrependimento. São esses os que sofrem, sem o saber e, por isso, concede-me ajuda-los, para que eles também possam soerguer-se e se confiarem à tua divina diretriz.
            - Deixa-me, Senhor como um porteiro de tua Mansão!
            E, desde então, Fabiano de Cristo ergue, sob o amparo misericordioso de Jesus, dentro dos campos da espiritualidade infeliz, casas em que os egressos do mal tenham um pouco para transitar entre as sombras do passado e as luzes eternas do porvir.

 (Trechos do livro “Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão Fabiano de Cristo).


















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