PROFECIAS DE FABIANO
DE CRISTO
Fabiano bate à porta do superior do
convento.
Diante dele, tranquilamente diz:
-
Senhor, partirei dentro de três dias! Antes, porém, quero que me dês licença
para despedir-me dos amigos que mais sofrem.
- Partirás?! – balbucia o superior,
ante o inesperado anúncio, pressentindo que Fabiano falava de sua própria
morte. – Estarás sempre conosco, Fabiano.
- Guarda-me em teu coração e ora por
mim!
O superior, profundamente
entristecido, nem sequer ousou querer desfazer o doloroso clima que
imediatamente se estabeleceu.
Acompanhou aquele velhinho, já com
mais de setenta anos, que se lhe fizera irmão e amigo. Da porta do convento,
vê-o afastar-se, arrastando-se dolorosamente, apoiado no bordão.
-
Que tens, senhor? – pergunta-lhe um dos irmãos da ordem vendo-lhe os olhos
lacrimejando.
Contemplando Fabiano, que se
distanciava, respondeu:
-
Deus... chama... as suas aves para os céus!
Não demorou muito, todo o convento
estava em alvoroço, ferido e alarmado pela notícia de que o venerável velhinho,
que a todos acalentava com a sua ternura, anunciara o seu regresso à casa de
Deus dali a três dias.
Ninguém pôs dúvida sobre o que ele
anunciara.
Muitos já choravam a sua ausência,
discretamente, orando ao Pai para que não o retirasse tão já daquela comunidade
cristã.
Fabiano, na cidade, abraça-se a
corações amados, em despedida. Demorava-se, porém, muito mais junto de todos os
aflitos, levando-lhes palavras de conforto, de esperança e de fé.
Acreditavam que ele iria viajar.
-
Que faremos nós – clama uma velha lavadeira – enquanto estiveres ausente, meu pai?
- Estarei contigo, se orares por
mim! No mundo de Deus, só o ódio abre distância entre as criaturas. Os que se
amam, porém, por mais longe que estejam, estarão sempre próximos de Jesus.
(14 de outubro de
1747)
Fabiano, na enfermaria, alenta ânimos
desfalecidos.
Pensa chagas abertas e sorri, em
doce e terna alegria, na despedida aos doentes, que sabia próxima.
Beija crianças.
Afaga velhos abatidos pela dor.
Encoraja os que choram.
Ampara os desesperançados.
(15 de outubro de
1747)
Não há uma só cela ocupada, no
convento.
Todos, sem exceção, entram de dois a
dois, na cela em que Fabiano se recolhera, balbuciando, entre lágrimas,
confissões de eterno amor fraternal.
Já quase de madrugada, o superior se
inclina no ombro amigo de Fabiano e, qual se fosse um filho diante de um pai
extremamente amado, chora soluçante.
Fabiano afaga-lhe os cabelos e o
tranquiliza.
A pedido, deixam-no só.
O convento se torna um amplo
oratório. Onde há uma pessoa, há uma prece ardente. Onde havia um coração que
antes rogava por si mesmo, agora há uma alma rogando por Fabiano de Cristo.
(16 de outubro de
1747)
Fabiano de Cristo desencarna!
A notícia se espalha pela cidade e
todos se comovem.
Imensa romaria se toma a direção do
Convento de Santo Antônio.
O Governador Gomes Freire de
Andrade, assim que informado do acontecimento, abandona todos os seus afazeres
e dirige-se, de imediato, ao convento. É quase o primeiro a entrar na câmara
mortuária. Aproximando-se do corpo de seu admirável benfeitor, vê aqueles pés
descalços pela humildade e que palmilharam pela cidade levando ânimo a tantos
desfalecidos e infelizes.
Ele se curva e beija-lhe os pés,
lavando-os com suas lágrimas.
No ar, abre-se um inebriante perfume
de rosas, como que envolvendo a cada alma em infinito amor.
O pai dos pobres despedia-se!
(17 de outubro de
1747)
(Trechos do livro
“Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos
para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão
Fabiano de Cristo).
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