A
CONFISSÃO DE UM CRIME
Fisionomia transtornada, ele
sussurrou:
- Eu... matei um homem!
Qual se aquela afirmação reprimida,
agora confessada, lhe franqueasse as portas da angústia longamente represada, o
infeliz verteu lágrimas de remorso e desabafo.
Cabeça baixa, prosseguiu a custo:
-
Meu crime foi acidental! Uma briga, por razão fútil e sem testemunhas e ele
caiu sobre o meu punhal! A toda hora estou a vê-lo diante de meus olhos, a
tremer na curta angústia e me destilando ódio pelo seu olhar.
Fabiano ouvia com delicadeza.
- Não bastasse essa desgraça, outra
pessoa está sendo acusada pelo crime que cometi. Isso me leva até a loucura,
por não saber o que fazer!
E soluçou baixinho.
- Fugi da justiça humana, temendo
ser incompreendido. Dói-me, porém, a consciência, qual se outra Justiça, de que
não posso fugir, estivesse a pedir-me a reparação do ato!
Nova pausa.
-
Quanto mais penso, mais sofro! O infeliz que tomaram em meu lugar é um pai de
família, sobrecarregado de obrigações. Sempre foi muito infeliz, pelo que
soube! Obrigado a tomar empréstimos, era devedor daquele a quem matei. Por essa
dolorosa coincidência é que o tomam por autor do homicídio, nada valendo os
seus protestos de inocência.
Respirando fundo, amargurado, segue:
-
Hoje silenciar seria responder, perante Deus, por dois crimes: o da morte acidental,
de que me recrimino, e o do destino de um inocente e das desgraças que já
desabam sobre seus familiares.
Nervosamente, estalando os dedos,
prossegue:
- Como me sentirei depois? Como
suportar uma dupla culpa? Já tenho entrevisto, em minhas noites de insônia, os
olhos tristes daquelas criancinhas, a suplicarem-me por amparo e a me acusarem
do silêncio igualmente covarde e criminoso.
Levantando-se:
-
Não suporto! Não me suporto!
Seguiu-se uma pausa longa e
indeterminada, com Fabiano envolvendo a atormentada criatura em orações
silenciosas.
-
Sinto-me aliviado, por ter desabafado, Fabiano. E que me tenhas ouvido, embora
em silêncio. Assim escutei, também, a voz da minha própria consciência.
Levantou-se para sair.
-
Vou confessar meu crime! É que, não dizendo nada, dizes-me tudo, fazendo-me
assumir as consequências de meu desatino.
Ele beija as mãos de Fabiano:
-
Bendito sejas, pela tua sabedoria!
(Trechos do livro
“Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos
para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão
Fabiano de Cristo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário