segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Conhecendo Fabiano de Cristo - III


A CONFISSÃO DE UM CRIME

            Fisionomia transtornada, ele sussurrou:
            - Eu... matei um homem!
            Qual se aquela afirmação reprimida, agora confessada, lhe franqueasse as portas da angústia longamente represada, o infeliz verteu lágrimas de remorso e desabafo.
            Cabeça baixa, prosseguiu a custo:
            - Meu crime foi acidental! Uma briga, por razão fútil e sem testemunhas e ele caiu sobre o meu punhal! A toda hora estou a vê-lo diante de meus olhos, a tremer na curta angústia e me destilando ódio pelo seu olhar.
            Fabiano ouvia com delicadeza.
            - Não bastasse essa desgraça, outra pessoa está sendo acusada pelo crime que cometi. Isso me leva até a loucura, por não saber o que fazer!
            E soluçou baixinho.
            - Fugi da justiça humana, temendo ser incompreendido. Dói-me, porém, a consciência, qual se outra Justiça, de que não posso fugir, estivesse a pedir-me a reparação do ato!
            Nova pausa.
            - Quanto mais penso, mais sofro! O infeliz que tomaram em meu lugar é um pai de família, sobrecarregado de obrigações. Sempre foi muito infeliz, pelo que soube! Obrigado a tomar empréstimos, era devedor daquele a quem matei. Por essa dolorosa coincidência é que o tomam por autor do homicídio, nada valendo os seus protestos de inocência.
            Respirando fundo, amargurado, segue:
            - Hoje silenciar seria responder, perante Deus, por dois crimes: o da morte acidental, de que me recrimino, e o do destino de um inocente e das desgraças que já desabam sobre seus familiares.
            Nervosamente, estalando os dedos, prossegue:
            - Como me sentirei depois? Como suportar uma dupla culpa? Já tenho entrevisto, em minhas noites de insônia, os olhos tristes daquelas criancinhas, a suplicarem-me por amparo e a me acusarem do silêncio igualmente covarde e criminoso.
            Levantando-se:
            - Não suporto! Não me suporto!
            Seguiu-se uma pausa longa e indeterminada, com Fabiano envolvendo a atormentada criatura em orações silenciosas.
            - Sinto-me aliviado, por ter desabafado, Fabiano. E que me tenhas ouvido, embora em silêncio. Assim escutei, também, a voz da minha própria consciência.
            Levantou-se para sair.
            - Vou confessar meu crime! É que, não dizendo nada, dizes-me tudo, fazendo-me assumir as consequências de meu desatino.
            Ele beija as mãos de Fabiano:
            - Bendito sejas, pela tua sabedoria!

(Trechos do livro “Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão Fabiano de Cristo).




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