O SEGREDO DAS CURAS
O doutor Fortes era médico generoso.
Interessava-se pelos doentes, fosse
qual fosse a sua condição social. Amparava do senhor ao último dos escravos,
sem nenhuma distinção.
A técnica precária da medicina, na
época, porém, quase sempre o colocava em desvantagem diante das enfermidades
rebeldes.
Clinicando também na enfermaria do
Convento de Santo Antônio, desde há muito passara a observar aquele enfermeiro
Fabiano de Cristo, que vencia onde ele se sentia derrotado.
Daquelas mãos delicadas, vira
doentes sem esperança saírem recuperados e retornarem à vida comum, sem sinais
das doenças que deveriam tê-los vitimados.
Deveria haver, ali, algum segredo –
conjeturava muitas vezes. E certo de que esse segredo existia, disfarçadamente
inspecionava a cada um dos atos de Fabiano.
Talvez tudo estivesse na água!
Sim! É que a cada doente em estado
grave Fabiano ministrava uma porção de
água. E até para aqueles portadores de feridas graves, ele aplicava gotas
d’água na região enferma, provocando miraculosamente a reversão do quadro e
obtendo cicatrizações espantosas.
Fortes queria dominar aquele
conhecimento.
- Há dias te observo trabalhando na
enfermaria, irmão Fabiano! – irrompe o médico, após Fabiano de Cristo haver
distribuído porções d’água a diversos internados.
-
Por mais que queiras negar, colocas nessa água algum recurso medicamentoso que
desconheço.
O interpelado sorriu candidamente.
-
Nada faço que qualquer um outro não possa fazer, doutor!
- Desculpe-me, porém não creio!
Afinal, eu te trouxe dois doentes irrecuperáveis, segundo os meus recursos
médicos e, três dias após, ei-los refeitos a te ajudar! E vi que nada lhes
deste além da água.
O médico insistia:
-
Se guardas avaramente teu segredo, lembra-te de teu dever de humanidade! Muitas
outras pessoas poderiam retornar à normalidade da saúde, se me revelasses o teu
conhecimento misterioso.
Fabiano, visivelmente constrangido
diante do doutor Fortes, foi direto e incisivo:
-
Doutor, apiedo-me, e muito, diante de cada um que sofre. Eles chegam aqui e
nada sei de enfermagem! Como socorrê-los? E, querendo minorar as suas dores,
apanho as canecas com água e faço as minhas orações, para cada doente em
particular.
E, diante do médico admirado,
complementou:
-
Sabendo que a vida vem de Deus, rogo ao Pai de misericórdia que abençoe a água
que Ele próprio criou e que nela dê o seu sopro de vida, como dá à vida inicial
ao homem.
Houve uma pausa longa, quebrada pelo eficiente
médico:
-
E...?
- E sabendo que o Pai atende a todas
as súplicas desinteressadas, sei que a água se transforma num santo remédio. O
que Deus coloca nela, nunca perguntei! Só sei que, com muito amor e muita fé,
vou ministrá-la aos doentes, em nome de Jesus Cristo!
O doutor Fortes estava sem fala!
-
Se o senhor fizer isso, doutor – complementou Fabiano – Deus por certo atenderá, pois Ele me ouve a
mim, que sou ignorante e pecador, e mais o ouvirá pelas suas virtudes.
Sabe-se que, algumas vezes, o doutor
Fortes foi visto dando pequenas porções d’água a escravos enfermos!
(Trechos do livro “Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão Fabiano de Cristo).
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