sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Conhecendo Fabiano de Cristo - VII



O SEGREDO DAS CURAS

            O doutor Fortes era médico generoso.
            Interessava-se pelos doentes, fosse qual fosse a sua condição social. Amparava do senhor ao último dos escravos, sem nenhuma distinção.
            A técnica precária da medicina, na época, porém, quase sempre o colocava em desvantagem diante das enfermidades rebeldes.
            Clinicando também na enfermaria do Convento de Santo Antônio, desde há muito passara a observar aquele enfermeiro Fabiano de Cristo, que vencia onde ele se sentia derrotado.
            Daquelas mãos delicadas, vira doentes sem esperança saírem recuperados e retornarem à vida comum, sem sinais das doenças que deveriam tê-los vitimados.
            Deveria haver, ali, algum segredo – conjeturava muitas vezes. E certo de que esse segredo existia, disfarçadamente inspecionava a cada um dos atos de Fabiano.
            Talvez tudo estivesse na água!
            Sim! É que a cada doente em estado grave Fabiano ministrava  uma porção de água. E até para aqueles portadores de feridas graves, ele aplicava gotas d’água na região enferma, provocando miraculosamente a reversão do quadro e obtendo cicatrizações espantosas.
            Fortes queria dominar aquele conhecimento.
            - Há dias te observo trabalhando na enfermaria, irmão Fabiano! – irrompe o médico, após Fabiano de Cristo haver distribuído porções d’água a diversos internados.
            - Por mais que queiras negar, colocas nessa água algum recurso medicamentoso que desconheço.
            O interpelado sorriu candidamente.
            - Nada faço que qualquer um outro não possa fazer, doutor!
            - Desculpe-me, porém não creio! Afinal, eu te trouxe dois doentes irrecuperáveis, segundo os meus recursos médicos e, três dias após, ei-los refeitos a te ajudar! E vi que nada lhes deste além da água.
            O médico insistia:
            - Se guardas avaramente teu segredo, lembra-te de teu dever de humanidade! Muitas outras pessoas poderiam retornar à normalidade da saúde, se me revelasses o teu conhecimento misterioso.
            Fabiano, visivelmente constrangido diante do doutor Fortes, foi direto e incisivo:
            - Doutor, apiedo-me, e muito, diante de cada um que sofre. Eles chegam aqui e nada sei de enfermagem! Como socorrê-los? E, querendo minorar as suas dores, apanho as canecas com água e faço as minhas orações, para cada doente em particular.
            E, diante do médico admirado, complementou:
            - Sabendo que a vida vem de Deus, rogo ao Pai de misericórdia que abençoe a água que Ele próprio criou e que nela dê o seu sopro de vida, como dá à vida inicial ao homem.
            Houve uma pausa longa, quebrada pelo eficiente médico:
            - E...?
            - E sabendo que o Pai atende a todas as súplicas desinteressadas, sei que a água se transforma num santo remédio. O que Deus coloca nela, nunca perguntei! Só sei que, com muito amor e muita fé, vou ministrá-la aos doentes, em nome de Jesus Cristo!
            O doutor Fortes estava sem fala!
            - Se o senhor fizer isso, doutor – complementou Fabiano – Deus por certo atenderá, pois Ele me ouve a mim, que sou ignorante e pecador, e mais o ouvirá pelas suas virtudes.
            Sabe-se que, algumas vezes, o doutor Fortes foi visto dando pequenas porções d’água a escravos enfermos!

            (Trechos do livro “Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão Fabiano de Cristo).




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