terça-feira, 9 de agosto de 2016

Conhecendo Fabiano de Cristo - IV


EM BUSCA DE DOAÇÕES

            O superior chamara Fabiano com urgência:
            - Sabes – diz-lhe, assim que entra – que a nossa despensa dos pobres está quase vazia. Já chega mais um dia de distribuição de alimentos e quase nada temos para dar-lhes.
            Fabiano ouvia atento.
            - Como tens um vasto círculo de admiradores, beneficiados pelas tuas intercessões junto aos Céus, creio ser oportuno que a eles recorras, pedindo-lhes contribuições.
            - Não posso incomodá-los, senhor! Eu, de mim, não prestei benefícios a ninguém. Se houver alguém com o direito de rogar por retribuição, em troca dos benefícios distribuídos, esse único alguém é Jesus.
            - Ora... não digo cobrar favores, Fabiano! É que, em verdade, dói-me que alguém nos venha estender as mãos e as recolha vazias.
            - Sinto também o mesmo.
            - Que tal, então, pedires a qualquer desconhecido?
            Fabiano tomou para si aquele encargo.
            Era de vê-lo, por muitos dias inteiros, sob o sol inclemente ou debaixo de chuva persistente, a arrastar-se pelas ruas, apoiado em seu bordão, batendo de porta em porta, a pedir esmolas pelos pobres.
            Transformou-se num “procurador dos pobres”.
            Benquisto por todos, era recebido sempre numa festa de corações, por tanta gente que jamais vira antes, mas que o conheciam como o “pai dos pobres”.
            Ricos e pobres o acudiam.
            Comovia-se, e muito, quando alguém lhe destinava um pequeno valor, que sabia ser migalha repartida da migalha e que ele guardava em separado, dizendo serem aqueles os “óbolos das viúvas”.
            Era já um quase fim de tarde.
            Bate à porta de uma casa fidalga. Ela se abre, revelando um rosto endurecido e conturbado, que lhe lança um olhar , um olhar cansado.
            - Que queres?
            - Sou do convento e venho estender-te a mão...
            O homem estava a fechar a porta, contrariado, quando a reabre e solicita com um ar estranho:
            - De onde és?
            - Do convento!
            - Essa voz... – resmunga e depois explode: - És o Barbosa?!
            Fabiano sorri e responde:
            - O ex-Barbosa!
            - Não lembras de mim? Sou o Ricardo! Barbosa, eu sou o Ricardo! Não te lembras? Já lá se vão mais de vinte anos! E quase não te reconheço nesses trajes!
            Os dois se abraçam.
            Na sala da casa, Ricardo volta a tomar ares sérios e deposita, na frente de Fabiano, uma grande soma de dinheiro.
            - Para os teus pobres.
            - Não são os meus pobres, mas os pobres de Jesus! – diz Fabiano.
            - Que seja! Isto me alivia a consciência – e, em tom de confidência, completa: - Metade do que tens aí recolhi numa trapaça, infelicitando um amigo meu! E quero, hoje, finalmente, aliviar a minha consciência...
            - Não posso aceitá-lo, Ricardo.
            - Mas... eu quero dar...
            - Não dás o que é teu! Quem sabe se aquele de quem tomaste o dinheiro traz o coração amargurado pelo que lhe fizeste.
            Ricardo ouvia admirado.
            - Neste caso, -  prossegue Fabiano – não sou o caminho certo para a reparação do erro praticado. Não é aos pobres de Deus que deves esse dinheiro. Toma-o, volta para junto daquele a quem prejudicaste e devolve-lhe o que é dele! Somente assim repararás a tua falta e reconquistarás um coração que te quer mal.
            Fabiano despede-se com um abraço carinhoso.
            Deixa Ricardo imerso em reflexões.
            Semanas mais tarde, Fabiano recebe no convento pequeno embrulho e, ao abri-lo, vê-se diante de grande soma de dinheiro acompanhada de um bilhete onde lê:
            “Reconquistei o Amigo que havia perdido. Agora tenho paz. Hoje, envio-te parte do que é legitimamente meu e rogo dá-lo aos pobres de Deus. Tenho orado muito, agradecendo o nosso feliz reencontro, que isso me libertou da tortura mental.”
            Fabiano beijou comovidamente o bilhete, assim como quem beija o coração de um amigo que estava perdido e que se reencontrou com a Vida.


(Trechos do livro “Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão Fabiano de Cristo).


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