EM
BUSCA DE DOAÇÕES
O superior chamara Fabiano com
urgência:
-
Sabes – diz-lhe, assim que entra – que
a nossa despensa dos pobres está quase vazia. Já chega mais um dia de
distribuição de alimentos e quase nada temos para dar-lhes.
Fabiano ouvia atento.
- Como tens um vasto círculo de
admiradores, beneficiados pelas tuas intercessões junto aos Céus, creio ser
oportuno que a eles recorras, pedindo-lhes contribuições.
- Não posso incomodá-los, senhor!
Eu, de mim, não prestei benefícios a ninguém. Se houver alguém com o direito de
rogar por retribuição, em troca dos benefícios distribuídos, esse único alguém
é Jesus.
- Ora... não digo cobrar favores,
Fabiano! É que, em verdade, dói-me que alguém nos venha estender as mãos e as
recolha vazias.
- Sinto também o mesmo.
- Que tal, então, pedires a qualquer
desconhecido?
Fabiano tomou para si aquele encargo.
Era de vê-lo, por muitos dias
inteiros, sob o sol inclemente ou debaixo de chuva persistente, a arrastar-se
pelas ruas, apoiado em seu bordão, batendo de porta em porta, a pedir esmolas
pelos pobres.
Transformou-se num “procurador dos
pobres”.
Benquisto por todos, era recebido
sempre numa festa de corações, por tanta gente que jamais vira antes, mas que o
conheciam como o “pai dos pobres”.
Ricos e pobres o acudiam.
Comovia-se, e muito, quando alguém
lhe destinava um pequeno valor, que sabia ser migalha repartida da migalha e
que ele guardava em separado, dizendo serem aqueles os “óbolos das viúvas”.
Era já um quase fim de tarde.
Bate à porta de uma casa fidalga.
Ela se abre, revelando um rosto endurecido e conturbado, que lhe lança um olhar
, um olhar cansado.
-
Que queres?
- Sou do convento e venho
estender-te a mão...
O homem estava a fechar a porta,
contrariado, quando a reabre e solicita com um ar estranho:
-
De onde és?
- Do convento!
- Essa voz... – resmunga e depois
explode: - És o Barbosa?!
Fabiano sorri e responde:
-
O ex-Barbosa!
- Não lembras de mim? Sou o Ricardo!
Barbosa, eu sou o Ricardo! Não te lembras? Já lá se vão mais de vinte anos! E
quase não te reconheço nesses trajes!
Os dois se abraçam.
Na sala da casa, Ricardo volta a
tomar ares sérios e deposita, na frente de Fabiano, uma grande soma de
dinheiro.
- Para os teus pobres.
- Não são os meus pobres, mas os
pobres de Jesus! – diz
Fabiano.
- Que seja! Isto me alivia a
consciência – e,
em tom de confidência, completa: - Metade
do que tens aí recolhi numa trapaça, infelicitando um amigo meu! E quero, hoje,
finalmente, aliviar a minha consciência...
- Não posso aceitá-lo, Ricardo.
- Mas... eu quero dar...
- Não dás o que é teu! Quem sabe se
aquele de quem tomaste o dinheiro traz o coração amargurado pelo que lhe fizeste.
Ricardo ouvia admirado.
-
Neste caso, - prossegue Fabiano – não sou o caminho certo para a reparação do
erro praticado. Não é aos pobres de Deus que deves esse dinheiro. Toma-o, volta
para junto daquele a quem prejudicaste e devolve-lhe o que é dele! Somente
assim repararás a tua falta e reconquistarás um coração que te quer mal.
Fabiano despede-se com um abraço
carinhoso.
Deixa Ricardo imerso em reflexões.
Semanas mais tarde, Fabiano recebe
no convento pequeno embrulho e, ao abri-lo, vê-se diante de grande soma de
dinheiro acompanhada de um bilhete onde lê:
“Reconquistei o Amigo que havia
perdido. Agora tenho paz. Hoje, envio-te parte do que é legitimamente meu e
rogo dá-lo aos pobres de Deus. Tenho orado muito, agradecendo o nosso feliz reencontro,
que isso me libertou da tortura mental.”
Fabiano beijou comovidamente o bilhete, assim como quem
beija o coração de um amigo que estava perdido e que se reencontrou com a Vida.
(Trechos do livro
“Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos
para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão
Fabiano de Cristo).
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