A PERNA DOENTE
Fabiano estava com erisipela nas
duas pernas. A sua perna esquerda, mais do que a outra, além de extremamente
inflamada, era aberta em dolorosa chaga. Vertia muito pus e desprendia um forte
mau cheiro.
Ele a trazia envolta em panos.
Nas crises fortes, ele próprio fazia
curativos dolorosos e trocava os panos com que enfaixava as pernas, várias
vezes por dia, para não incomodar os outros com o forte cheiro que exalava.
O seu superior, conhecendo seu
silencioso martírio, após solicitar o auxílio de um dos médicos, dirigiu-se a
Fabiano.
- Amanhã serás medicado.
- Tenho muitos doentes graves! – contrapôs Fabiano
docemente – E não posso deixá-los sem
cuidados!
- E eu tenho um doente muito grave e
rebelde, que és tu, e não te deixarei sem cuidados, irmão Fabiano.
- Mas...
- É uma ordem que te dou! Não te
rebeles contra a minha autoridade. Cumpro, afinal, um dever que já me fizeste
protelar muitas vezes.
Fabiano baixou a cabeça, obediente.
-
Amanhã serás medicado, meu filho! Também és filho de Deus!
Aquela noite foi um desassossego para
Fabiano.
Após todas as atenções dispensadas
aos doentes internados na enfermaria, viu-se Fabiano retirar-se, já madrugada,
para a sua cela no convento.
Ouviram-se os sons abafados de uma
ardente súplica.
Quando o sol já estava claro, o
médico convocado para fazer curativos nas pernas de Fabiano estava junto ao
leito que lhe fora destinado na própria enfermaria.
Pela cor do pus, que se impregnara
nos panos velhos que envolviam a perna esquerda, o médico deduziu sobre o
estágio avançado e precário e do odor nauseante que dali adviria.
Com cautela, e alguma repugnância,
removia os panos. À medida, porém, que desenfaixava a perna, surpreendia-se com
o perfume de rosas que lhe chegava às narinas.
Fez curativos dolorosos!
Após terminado o trabalho,
retirou-se para prestar informações sobre o estado da perna de Fabiano. E, por
consequência, o superior do convento se aproximou apreensivo do leito em que
Fabiano ainda repousava.
O superior certificava-se do aroma
de rosas.
-
Que fizeste, Fabiano? O médico crê que encharcaste as feridas com alguma coisa
estranha!
- Eu...
- Não negues, que sinto o perfume
por toda a enfermaria!
Contristado, Fabiano silenciou.
- Valha-me Deus! Teria o céu te perfumado?!
Envergonhado, Fabiano balbuciou:
-
Não desejando que o mau cheiro de minhas pernas infestasse a mão do médico que
me prestaria socorro, esta madrugada roguei a Jesus que poupasse o médico da
podridão do meu pobre corpo. Que Deus me perdoe pela minha vaidade!
E as lágrimas desciam de seus olhos,
em meio ao perfume de rosas que perduraria por todo o dia, envolvendo a
enfermaria e todo o convento.
(Trechos do livro
“Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos
para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão
Fabiano de Cristo).
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