quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Conhecendo Fabiano de Cristo - VI


A PERNA DOENTE

            Fabiano estava com erisipela nas duas pernas. A sua perna esquerda, mais do que a outra, além de extremamente inflamada, era aberta em dolorosa chaga. Vertia muito pus e desprendia um forte mau cheiro.
            Ele a trazia envolta em panos.
            Nas crises fortes, ele próprio fazia curativos dolorosos e trocava os panos com que enfaixava as pernas, várias vezes por dia, para não incomodar os outros com o forte cheiro que exalava.
            O seu superior, conhecendo seu silencioso martírio, após solicitar o auxílio de um dos médicos, dirigiu-se a Fabiano.
            - Amanhã serás medicado.
            - Tenho muitos doentes graves! – contrapôs Fabiano docemente – E não posso deixá-los sem cuidados!
            - E eu tenho um doente muito grave e rebelde, que és tu, e não te deixarei sem cuidados, irmão Fabiano.
            - Mas...
            - É uma ordem que te dou! Não te rebeles contra a minha autoridade. Cumpro, afinal, um dever que já me fizeste protelar muitas vezes.
            Fabiano baixou a cabeça, obediente.
            - Amanhã serás medicado, meu filho! Também és filho de Deus!
            Aquela noite foi um desassossego para Fabiano.
            Após todas as atenções dispensadas aos doentes internados na enfermaria, viu-se Fabiano retirar-se, já madrugada, para a sua cela no convento.
            Ouviram-se os sons abafados de uma ardente súplica.
            Quando o sol já estava claro, o médico convocado para fazer curativos nas pernas de Fabiano estava junto ao leito que lhe fora destinado na própria enfermaria.
            Pela cor do pus, que se impregnara nos panos velhos que envolviam a perna esquerda, o médico deduziu sobre o estágio avançado e precário e do odor nauseante que dali adviria.
            Com cautela, e alguma repugnância, removia os panos. À medida, porém, que desenfaixava a perna, surpreendia-se com o perfume de rosas que lhe chegava às narinas.
            Fez curativos dolorosos!
            Após terminado o trabalho, retirou-se para prestar informações sobre o estado da perna de Fabiano. E, por consequência, o superior do convento se aproximou apreensivo do leito em que Fabiano ainda repousava.
            O superior certificava-se do aroma de rosas.
            - Que fizeste, Fabiano? O médico crê que encharcaste as feridas com alguma coisa estranha!
            - Eu...
            - Não negues, que sinto o perfume por toda a enfermaria!
            Contristado, Fabiano silenciou.
            - Valha-me Deus! Teria o céu te perfumado?!
            Envergonhado, Fabiano balbuciou:
            - Não desejando que o mau cheiro de minhas pernas infestasse a mão do médico que me prestaria socorro, esta madrugada roguei a Jesus que poupasse o médico da podridão do meu pobre corpo. Que Deus me perdoe pela minha vaidade!
            E as lágrimas desciam de seus olhos, em meio ao perfume de rosas que perduraria por todo o dia, envolvendo a enfermaria e todo o convento.


(Trechos do livro “Fabiano de Cristo, o Peregrino da Caridade”, de Roque Jacintho, transcritos para a obra “Cenário de Luz” – Fundação do Lar Espírita Assistencial Irmão Fabiano de Cristo).

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