Feliz aniversário ao nosso querido mentor!
Neste dia 08 de fevereiro, comemoramos mais um aniversário de nascimento do nosso mentor, popularmente conhecido como Frei Fabiano de Cristo (Soengas, Portugal, 1676). Isto posto, pensando em celebrar esta data tão especial, apresentaremos um trecho, muito pertinente à atualidade, da obra "Fabiano de Cristo- O Peregrino da Caridade", de Roque Jacintho- trabalho este que conta um pouco de sua trajetória.
8
DESPEDIDA
— Pai Fabiano! — prorrompe André, enlaçando-o num
abraço profundo e apertado.
— Vim despedir-me!
Uma pausa e completou:
— Eu não poderia partir, sem te abraçar por uma última
vez! Sabes que te devo a saúde...
Fabiano sente algo mais naquele abraço.
Era a sensação de dor indefinível, dessas que nascem da
alma.
— Vais viajar?
— Sim! Uma viagem sem retorno a esta região onde fui
feliz, mas onde sofro, agora, uma dor sem remédio!
— E viajas por seres infeliz?
— Que me resta aqui, pai Fabiano? Além de teu coração
paternal, nenhum outro encontrei que me desse
compreensão. Cansado, partirei desiludido, e assim não
farei mais ninguém infeliz.
— Mas... te despedes para sempre?
Para sempre! Tomarei novos caminhos...
— Há caminhos, porém, meu filho, que são traiçoeiros
desvios que podem conduzir-nos a maiores sofrimentos
ainda. Se a vida te pesa aqui, como será essa vida
amanhã?
— De tudo me livrarei!
— Também, um dia, pensei em livrar-me de muitas
coisas, André. Descobri, porém, que ninguém se livra de
si mesmo, salvo, quando se esquece de si, para viver
pelos outros. Há, por isso, partidas que nos levam para o
bem, fazendo desabrochar virtudes adormecidas em
nossos corações e há aquelas que nos arrojam a
despenhadeiros insondáveis.
— Partirei para onde não haja mais amarguras e, talvez,
nem felicidade.
— Queres te anular, para esquecer?
André hesitou, mas confirmou:
— Creio que sim!
— Antes de partires, ajuda-me a dar conforto a um
velhinho cego na enfermaria, que as forças me faltam
hoje. Levarás, assim, para onde fores, uma lembrança
inesquecível, que talvez te faça recordar de nossa
amizade!
O jovem relutou visivelmente.
Fabiano, tomando-o pelo braço, qual faz um pai com o
filho relutante, quase o arrastou na direção da
enfermaria.
Os dois estavam diante do modesto leito.
— Juvenal! — chama brandamente Fabiano.
— Oh! meu doce paizinho — prorrompe o velho a tatear o
ar com as mãos, em busca do amigo que estava quase a
seus pés.
— Voltas a ver-me!
— Como estás agora, meu bom Juvenal?
Mais sereno, pai Fabiano! Nesta noite interminável de
minha cegueira, somente agora comecei a ver o sentido
da vida. Tenho, assim, revisado cada um de meus dias.
E rogo a Jesus a oportunidade de reparar todos os males
que pratiquei.
— Queres viver muito, Juvenal?
— Oh! Sim! Preciso viver muito, se Deus o permitir,
porque os pecados de minha indiferença por todos, me
atiraram numa completa solidão e amargura.
O velho agora chorava, através de seus olhos cegos.
— Eu queria abraçar meu filho que, diante de meus
destemperos e dos maus-tratos, abandonou esta vida
pela porta do suicídio. Até ontem julguei que esse meu
pecado seria sem perdão. Esta noite, no entanto, o filho
me veio visitar. Pude vê-lo novamente e ele me contava
de sua dor espiritual, porque a vida continua no Além.
André, ao lado de Fabiano, estremeceu.
— Ele não sabia, pai Fabiano, que embora bruto,
grosseiro, selvagem que sempre fui, eu o amava e, por
temor de perdê-lo, eu me tornava agressivo,
aparentando indiferença.
— Deixo-te, por ora, Juvenal, na companhia de nosso
André, que te ajudará a alimentar-te. Ele, também, veio
despedir-se de todos nós, para buscar regiões ignoradas
de seu coração.
Fabiano, afastou-se, deixando ambos em estreito
convívio.
Duas horas mais tarde, André saiu da enfermaria com a
fisionomia refeita e, dirigindo-se a Fabiano, lhe diz:
— Até amanhã!
— Não partes mais?
— O além talvez não seja a região ideal para fugir da
vida, se atrás ficarem os que choram por amar-nos tão
profundamente. Além disso, amanhã tenho um encontro
com um pai que não tem filho e que precisa de alguém
para guiá-lo na cegueira em que aprendeu a ver e me fez
luz.
— Fazes bem! O suicídio não é um porto de chegada,
mas a travessia de uma grande tormenta. É o princípio
de todas as dores e de tormentos infindos, porque a vida
é eterna para nós. Afinal, há sempre os que nos amam,
cada um a seu jeito, e é preciso entender a linguagem do
amor.
Livro: "Fabiano de Cristo- O Peregrino da Caridade"
Autor: Roque Jacintho